Após iniciar uma série de artigos voltadas para a análise econométrica, iremos iniciar uma nova série de postagens! Dessa vez, o tema que irá ser trabalhado é a Economia Brasileira.
A série de postagens terá o intuito de estudar o história brasileira através de um olhar econômico, mas sem abrir mão da multidisciplinaridade, trazendo elementos de ciências correlatas como sociologia, direito e geografia.
O foco se dará em compreender como se deu o processo de formação econômica do Brasil, indo do Brasil colônia até os dias atuais. Dessa maneira, essa série de postagens estará sendo então compatível com o currículo padrão de cursos de ciência econômica. indo das disciplinas de Formação Econômica do Brasil (1500 - 1930) e Economia Brasileira Contemporânea (1930 - em diante).
Buscaremos desde já, fazer correlação dos elementos históricos com as ferramentas de análise econômicas, e quando possível, utilizar de elemento estatístico descritivo.
Importante observar que a História Econômica do Brasil é repleta de diferentes abordagens para diferentes tópicos, o que reflete a diferença oriunda das diversas escolas de interpretação econômica, sendo assim, sempre que possível estaremos demonstrando e contrapondo as diferentes visões sobre um determinado fenômeno.
Uma característica que é derivada dessa diversidade de abordagens é o fato de que as referências literárias são bem mais pulverizadas do que nas ciências de cunho mais instrumental (microeconomia, macroeconomia e econometria, por exemplo). Ainda que exista bons livros textos que agregam bastante conteúdo sobre um período, como os clássicos (1) Formação Econômica do Brasil do autor Celso Furtado, leitura obrigatória sobre a economia colonial; (2) A Ordem do Progresso, referência em economia contemporânea; (3) Economia Brasileira Contemporânea, de diversos autores, com direção de Fabio Giambiagi, é importante ainda observar os textos esparsos, principalmente artigos de periódicos e revistas especializadas. Portanto, não estranhe se a bibliografia utilizada for mais dispersa do que o comum.
Mas ainda que se utilize uma literatura externa, não iremos fugir dos livros textos básicos, que são referência não só no mundo acadêmico, como também para provas de concurso e principalmente para a ANPEC. Por fim, quanto a bibliografia, cada período exigirá uma referência diferente, que será detalhada ao final de cada capítulo.
Tendo tudo isso definido, podemos então dar inicio aos estudos sobre Economia Brasileira.
Antes de tudo, vamos responder a pergunta título desse artigo: Por que estudar a Economia Brasileira?
Parece óbvio a primeira vista, afinal de contas, somos brasileiros e temos curiosidades por entender como funciona o nosso país e porque somos dessa maneira, e não de outra.
Mas sendo mais especifico, o grande trunfo do estudo da Economia Brasileira consiste em entender a origem histórica das características estruturais da Economia Brasileira, respondendo uma séries de perguntas.
Você com certeza já ouviu (ou já fez) as seguintes perguntas:
1. Por que no Brasil tem tanta Pobreza?
2. Por que o Brasil não é tão rico quanto poderia ser?
3. Quais as causas da inflação brasileira?
4. Quais são os grandes desafios da economia brasileira?
5. Como podemos nós tornar uma economia desenvolvida?
6. Por que o Brasil é um país tão desigual?
7. Por que o estado brasileiro é ineficiente?
Essas perguntas vão e voltam na nossa história. Especialmente em períodos de caos econômico, as pessoas tendem a buscar no passado a resposta dessas perguntas, tentando entender como chegamos aqui para poder então entender como podemos progredir.
Então, além de ser história por si mesmo, o estudo da Economia Brasileira tem um papel importante pois serve como um elemento de aprendizado, pois o passado traz lições essenciais para melhorar as tomadas de decisão. Isso ficará claro quando estudarmos a Economia Brasileira do século XX, principalmente no que tange ao processo inflacionário, e como foram duras as consequência da persistência em erros.
Temos portanto que a história tem três papéis essenciais: (1) fornecer compreensão sobre processos e fenômenos de uma sociedade; (2) fornecer lições sobre que permitem compreender melhor o rumo que estamos tomando enquanto nação e (3) auxiliar a compreender tendências históricas, recentes ou não. Podendo chamar o primeiro ponto de elemento compreensivo, o segundo ponto de elemento preditivo e o terceiro de elemento empírico.
No livro Sobre Historia, o renomado Historiador Erich Hobsbawm (1917 - 2012) destaca o papel da história quando relacionada ao mundo contemporâneo. O autor declara que o sentido do passado reside no fato de que "Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação ao seu passado (ou da
comunidade), ainda que apenas para rejeitá-lo. O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana."
A maneira como uma sociedade encara o seu passado muda de sociedade para sociedade, enquanto algumas encaram o passado como o "padrão para o presente", enquanto outras são mais abertas ao papel das inovações, sendo mais flexíveis quanto os padrões do passado. Em certas nações, pode-se até dizer que um projeto tem sucesso ou não na medida em que replica o passado. Entretanto, deve-se chamar atenção que o papel do passado como padrão acaba confrontando-se com a ideia do progresso contínuo, pois dadas as modificações que uma sociedade vive, ocorrerá que o passado perde parte do seu seu valor como padrão para o presente, e se torna um livro de referências. Alguns gostam de dizer que a história é o laboratório das ciências sociais.
Mas o que o passado pode nos dizer sobre o mundo atual? Segundo Hobsbawm:
"Mas o que pode a história nos dizer sobre a sociedade contemporânea? Durante a maior parte do passado humano — na verdade, mesmo na Europa ocidental, até o século XVIII — supunha-se que ela pudesse nos dizer como uma dada sociedade, qualquer sociedade, deveria funcionar. O passado era o
modelo para o presente e o futuro. Para fins normais, ela representava a chave para o código genético pelo qual cada geração reproduzia seus sucessores e organizava suas relações. Daí o significado do velho, que representava sabedoria não apenas em termos de uma longa experiência, mas da memória de como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de como deveriam ser feitas".
Dentro desse contexto, se destaca o fato de que "Se o presente era, em algum sentido, insatisfatório, o passado fornecia o modelo para reconstruí-lo de uma forma satisfatória.". Observe que "É evidente que o presente não é, nem pode ser, uma cópia-carbono do passado; tampouco pode tomá-lo como modelo em nenhum sentido operacional. (...) Entretanto, há ainda uma parte muito grande do mundo e dos assuntos humanos na qual o passado retém sua autoridade, e onde, portanto, a história ou a experiência, no genuíno sentido antiquado, opera do mesmo modo como operava no tempo de nossos antepassados.".
Portanto, ainda que o passado mantenha autoridade sobre certos aspectos, devemos ter cuidado em inferir que um fenômeno resulte em um determinado resultado positivo ou negativo somente com base no que a história nos diz. Como destaca Hobsbawm "Não podemos pedir ao passado respostas diretas para quaisquer perguntas que já não lhe tenham sido feitas, embora possamos usar nossa inventividade como historiadores para ler respostas indiretas naquilo que ele deixou para trás.".
Trocando entre miúdos, precisamos estudar a História da Economia Brasileira não somente para compreender como chegamos até aqui (elemento compreensivo), mas também para entender o rumo que estamos tomando (elemento preditivo) e extrair lições importantes para melhor entender a realidade brasileira (elemento empírico).
A equipe do Agente Racional espera que você possa aproveitar os artigos que virão, e que eles possam lhe ajudar a compreender melhor a Economia Brasileira.
O primeiro tópico que será tratado é a periodização da Economia Brasileira.
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Para essa parte introdutória vale a pena ler o livro Sobre História do autor Erich Hobsbawm.
O capítulo 2 ("O sentido do passado", p.17-31) trata da função social do passado, trazendo insights importantes para compreender o papel do elemento compreensivo da história.
O capítulo 3 ("O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea?", p.32-44) dá continuidade ao tópico do elemento compreensivo, introduzindo o elemento empírico, ao tratar do papel da experiência histórica como fator de relevância nos fenômenos da sociedade contemporânea.
O capítulo 4 ("A história e a previsão do futuro", p.45-64) introduz o elemento preditivo, ao demonstrar que a história tem uma importância dentro do continuum temporal, podendo a partir dele deduzir inferências, na medida do possível.
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